quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LA VIE D’ADÈLE – AZUL É A COR MAIS QUENTE


Estreia nessa sexta-feira (06), nas salas de Cinema do Dragão, um dos filmes mais importantes de 2013, que começa a liderar as listas de critica do mundo inteiro como o melhor do ano. O Diretor Fantasma já viu o filme e adianta aqui o que se pode esperar das três horas que contam a vida de Adèle. 

O filme deve cair no gosto do publico LGBT porque, enfim, a temática não permite um longo distanciamento disso mas, como em toda história contada no cinema, não é descartada a identificação dessa história de amor entre duas mulheres com qualquer outra. 

Atriz Léa Seydou, o diretor Abdellatif Kechiche e a atriz Adèle Exarchopoulos.
Ganhador da palma de ouro em Cannes este ano o filme ganhou de cara o titulo de polêmico por mostrar tantas cenas de sexo de maneira tão aberta (planos abertos) para um júri e festival conservadores. Depois dessa explosão que foi o prêmio o filme ganhou um destaque gigantesco nas mídias. Agora com as campanhas de exibição nas salas do mundo inteiro o filme é um forte candidato para o Oscar ano que vem e deve arrastar uma leva de prêmios menores até lá.


O filme é uma adaptação da história em quadrinhos da francesa Julie Maroh. A autora é engajada nas lutas por direitos dos homossexuais na França e em seus quadrinhos, em boa parte, retratam esse tema, como é o caso de Le Bleu est une Couleur Chaude adaptado para La Vie D’Adèle. Nos quadrinhos o nome de Adèle é Clementine e aos 15 anos se apaixona por Emma e seus cabelos azuis, o amor avassalador que precisava para por fora sua liberdade. Nos quadrinhos o engajamento pelas questões desconfortáveis das relações homossexuais é mais presente do que no filme, além da história se passar no norte da França e no filme tudo acontecer em Paris. Confira o blog da jovem ilustradora francesa: Link


Adèle, com seus 17 anos, (nos quadrinhos aos 15) descobre seu gosto por mulheres ainda no colegial de maneira indecisa. Mesmo se descobrindo e recebendo os deboches de seus amigos pela desconfiança sobre sua opção sexual, ela se aventura na procura por essa confirmação e acaba se apaixonando por Emma, uma pintora estudante de Belas Artes que se encanta com a beleza de Adèle e sua atmosfera doce e jovem. Um encontro repentino na rua e a troca de olhares curiosos de ambas, somado com a imaginação literária de Adèle foram o bastante para a adolescente conflitar-se sobre sua sexualidade. 


Tímida, bela, doce e pragmática - apesar do gosto literário – Adèle é uma menina que come de boca aberta no começo do filme e no fim se transforma numa adulta sem perceber. Adora literatura e pretende ser professora de maternal por amar crianças, mas depois que conheceu Emma suas perspectivas se fortificaram mais ainda. A vida de casal das duas proporcionou e exigiu ao mesmo tempo uma nova postura de Adèle. Porém seu lado mais pragmático de ganhar e viver a vida foi o leve ponto - não o único - de desencaixe de sua vida amorosa, entre tantos encaixes e concordâncias das duas, pois sempre estava rodeada de grandes conhecedores da arte e amantes da filosofia que defendem a leve significância da vida e as maneiras também leves de vivê-la. Já Emma é a figura da experiência, que não perde a paixão pela vida e pelo amor. Estuda Belas Artes e pinta Adèle como uma musa, é rodeada de amigos que atuam no meio das artes plásticas e encontrou em Adèle a combinação da juventude com a maturidade amorosa e sexual de uma adolescente.


O que acontece com as duas é a coincidência da livre disposição de Emma e o encanto meigo, delicado e voluptuoso de Adèle. Uma história de sensações inéditas feitas de maneira convencional pelas duas. É inegável que o sexo e o desejo de ambas sejam o carro chefe da união e amor delas, mas isso não significa que esse amor fique mais vulnerável ou fraco, pois ele se torna tão marcante quanto os outros tipos de afeto quando chega ao fim. O sexo no filme é muito bem esclarecido e desinibido. As cenas de sexo das duas são bem estendidas e repetitivas, o que mostra o peso dele na relação das duas. Tanta exposição dos corpos das duas e os arfares de prazer pode ser um ponto de discordância dos espectadores, mas ao meu ponto de vista a intenção dessas cenas estendidas é a tentativa da aproximação do comum e compartilhar com o publico cenas que recordem às suas experiências mais intimas, o que acontece no quarto das pessoas apaixonadas quando elas se libertam. Inserido nesse contexto está presente o azul, representando os desejos de Adèle, em destaque para Emma. 



Os planos bem fechados nos rostos trazem a sensação de proximidade com a história das duas. Como se fosse a representação do olhar de um personagem para o outro. O filme inteiro tem essa estética, o retrato da face das duas, mostrando os detalhes das expressões, seja os da pele, cabelo e pequenos pontos de beleza natural das duas nas cenas de beijo, como também nas cenas de desespero de Adèle após o abandono. É de se perceber na atenção aos detalhes estéticos das duas, as minúcias de detalhes belos de Adèle (como o seu cabelo bagunçado) são intencionais para a construção de atmosfera suntuosa da personagem, além de seus jeitos e manias.
As três horas de filme casam com a passagem cronologia da história e obedecem a um ritmo não acelerado, mas também não tão lento, do pré, durante e pós Emma na vida de Adéle. A linguagem do filme presa pelo sensitivo e a passagem rápida e resolvida do tempo não se encaixaria com essa narrativa que tenta se mostrar próxima ao real. Na vida as coisas demoram um pouco para acontecer, quando acontecem são intensas, e quando terminam a dor parece não ter fim. Depois disso começa a insistência pela superação e no fim o horizonte do recomeço começa a aparecer. Foi assim para Adèle no filme.   



Azul é a Cor Mais Quente é sincero e indiferente de opiniões, assim com as heroínas francesas e, apesar do caráter lírico independente, ele trata da coisa que talvez seja a mais besta e absurda da vida - o amor - de maneira factual sem idealizações poéticas.



La Vie D’Adèle. 2013.  França. Cor. 173 min. Drama. Direção e roteiro: Abdellatif Kechiche. Elenco: Adèle Exarchopoulos, Alma Jodorowsky, Aurélien Recoing, Benjamin Siksou, Catherine Salée, Fanny Maurin, Jérémie Laheurte, Léa Seydoux, Mona Walravens, Salim Kechiouche, Sandor Funtek. Produção: Genevieve Lemal. Fotografia: Sofian El Fani.






Um comentário:

  1. Adorei e compartilho do seu ponto de vista, Vyrna! O seu texto está excelente... e eu já estou programando minha próxima ida ao cinema, para rever a peça. Um ponto interessante, é a reação conservadora da plateia às cenas de sexo, risinhos, filmagens, etc.

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