segunda-feira, 20 de maio de 2013

IV MOSTRA DE IGUATU – A DESPEDIDA

          
Finalizando uma semana de puro amor ao cinema, os dois últimos dias da mostra serviram de confirmação para o Diretor Fantasma de que quando se acredita em algo verdadeiro que faz parte da sua identidade não importa como isso aconteça nem o quanto dure, o que realmente importa é alcançar o seu objetivo mais primário de maneira eficaz ao ponto de atingir varias pessoas de realidades e pensamentos diferentes.

Na quinta-feira, terceiro dia, conhecemos um espectador que comparece a mostra ano a ano, dês de sua abertura. Em um depoimento espontâneo ao grupo de cinegrafistas da Vila das Artes, uma das parcerias da mostra, ele relatou todo o seu agradecimento pelos idealizadores, pois sem a realização da mostra com toda a certeza ele não saciaria o seu apreciação pelas produções nacionais. Sabendo que essa é a principal motivação para se realizar a mostra, Cesar Teixeira e Kamile Costa com toda a certeza haviam alcançado naquele momento a concretização de um projeto preocupado com quem gosta de cinema e tem vontade de gostar ainda mais. É compreensível o sentimento desse espectador, pois mesmo na capital Fortaleza, e tantas outras capitais e metrópoles, acontece esse tipo de isolamento exibitivo. O que seriam dos amantes sôfregos dos filmes não comerciais sem as predileções das mostra e festivais? Já que recordar é viver, é hora de saber como foi  despedida dessa semana encharcada de cinema.

NA SEXTA 




Na sexta-feira, penúltimo dia da mostra, o ritmo da programação continuava no pique. Foi o dia da ultima exibição no Teatro Pedro Lima Verde e a finalização da oficina Filme Nosso: realização fílmica de um conto adaptado, realizada pela diretora Sara Mabel.

Como o de costume, o dia de programação da mostra começou cedo. Sexta foi o dia de se despedir do Teatro Paulo lima verde com o longa O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, compondo a mostra infantil. O filme conta a história de Mauro, um garoto que é deixado com o avô pelos seus pais, que por sua vez estão fugindo da perseguição militar, durante o período em que era instaurada no Brasil a ditadura, na década de 1970. Depois de perder o avô e aprender a viver sozinho e sem amparo, o garoto acaba fazendo novos amigos e vivendo uma infância normal, na medida do possível, pois a espera contínua por seus, que afirmaram para garoto que estariam saindo de férias e prometeram voltar na copa de 1974, e a presença da repressão militar, compõem um pequeno drama emocional e uma necessidade de amadurecimento fora de hora do garoto. A alegria de mauro era a paixão por futebol e seu álbum de figurinhas dos jogadores da seleção. Com o tema da ditadura e do futebol, o filme vai se desenrolando de maneira gostosa, remetendo a uma noção de infância bem aproveitada mesmo em meio a eventos desagradáveis. Já as crianças presentes no Teatro estavam curiosas para saber do desfecho do filme. Afinal os pais de Mauro voltariam ou não? Enquanto eles não descobriam, a diversão corria solta. A cada cena de jogo da copa de 1974 era uma euforia de gol. A cada drible, a cada defesa e principalmente a cada gol era uma comemoração digna de torcida de estádio lotado. Uma ótima despedida das sessões matinais.
Já a tarde, a oficina da diretora Sara Mabel cruzou a  tarde para realizar a segunda parte da oficina Filme Nosso: realização fílmica de um conto adaptado. A lição da tarde foi a realização das filmagens do projeto traçado com os participantes das oficinas.

Finalizando o dia, no auditório do SESC, foi o momento dos habitantes de Iguatu conhecerem a história de vida de Vanessa Pinheiro em Não Vá Se Perder, curta vencedor de Melhor Roteiro e Melhor Curta pelo Júri Popular no Festival Nóia, ano passado. O curta fala de maneira cômica/trágica a vida amorosa da diretora com os seu 8 relacionamentos e seus desastres corriqueiros. Logo após foi exibido o curta de Quico Meirelles, 5 Minutos, com Juliano Cazarré e Maria Flor, dialogando sobre o que se pode fazer em cinco minutos, já que esse foi o tempo que os impediu de entrar em um pub, em Londres. Como sempre o ponto alto da noite é a exibição de um longa. O documentário Paraíba Meu Amor, do diretor Bernard Robert Charrue, reuniu os amantes do forró em um verdadeiro bailão de sanfonas. O documentário tem um formato visual característico do diretor europeu. Apesar da preferência e o costume fotográfico, o filme não esconde o lado sofrido e “marginal” da realidade forrozeira. Chico Cesar e mais três sanfoneiros, incluindo Dominguinhos, cantam de musica em musica a história do forró em Paraíba e no nordeste no brasil. A platéia em muitas vezes cantou junto com as interpretações dos artistas convidados, dependendo somente de um arrasta pé comedido por conta do espaço.

Quando a sessão teve o seu termino o sentimento de despedida já pairava entre os organizadores e com o Diretor Fantasma.

NO SÁBADO




No ultimo dia da mostra o céu de Iguatu parecia está mais pitoresco do que antes. As nuvens pareciam saber que algo estava muito bom estava chegando ao fim e que esse fim seria da maneira mais prazerosa que alguém poderia imaginar.

A despedia do auditório do SESC (um dos pilares da mostra, responsável pelo confortável espaço provido de equipamentos e aparatos técnicos necessários para as exibições) foi a tarde com o workshop sobre O Processo Criativo na Composição Sonora de “Doce Amianto”, ministrado por um dos diretores do filme, o também poeta Uirá dos Reis. Uma experiência de aprendizado com um artista altamente criativo e inspirador. Com toda a certeza um dos momentos para se guardar na mochila.

Complementando a tarde, mais a noite foi exibido o altamente aguardado longa Doce Amianto, de Uirá dos Reis e Guto Parente, no ORTAET, espaço cedido pelo grupo teatral de Iguatu para o encerramento da mostra. O ultimo filme do coletivo Alumbramento Filmes a ser exibido na mostra. Ainda inédito em Fortaleza o filme é uma verdadeira cachoeira de sensações e analogias, uma obra surreal. Não foi por acaso que o filme deu o que falar no festival de Tiradentes esse ano. Uirá é Blanche, uma fada madrinha que ajuda Amianto (Deynne Augusto) a superar suas dores pelo seu amado "Rapaz". Em meio a esse sofrimento, realidade, sonho e loucura se misturam em imagens, formando simbologias geniais, desconstruídas, retiradas de momentos sofridos e felizes da personagem. Aqueles momentos em que o publico se identifica com o que é mostrado, pois é um sentimento decodificado para a tela que jamais fora imaginado por quem sentiu. Um trabalho magistral.

Após a exibição do longa foi realizado um debate sobre o filme no local. Curiosidades, dúvidas, relações a outras obras, elogios, tudo foi compartilhado com quem estava presente e gostou do filme. Foi realmente um momento único para quem gosta de cinema, ver uma obra incrível e poder falar sobre ela com que a realizou, algo que deveria ser compartilhado com milhares de pessoas.

Terminado a noite o Diretor Fantasma estava tão estarrecido e confortável ao mesmo tempo, que poderia acabar ou começar tudo outra vez, que não importaria, o que foi vivido e apreciado em Iguatu ficará por muito tempo em memórias póstumas.
Agradeço até a outra vida a organização da mostra por ter a lembrança fantasmagórica do Diretor, a Kamile Costa e ao Cesar Teixeira pelo aconchego e o cuidado com esta escritora, aos convidados da mostra pela boa companhia, pelas noites incríveis ao lado dos que ajudam na organização da Mostra e pela viagem mais que tranquila e bem guiada pelo aniversariante da semana, o rei do gingado Antônio, nosso motorista.

Adeus Igatu. Saudade do seu céu e do seu Sol!
    




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