terça-feira, 5 de junho de 2012

FERNANDO MEIRELLES, 10 ANOS DE CDD


 No quarto dia do Festival Ibero-Americano Cine Ceará (segunda 05), o Diretor Fantasma teve a grande honra de conversar com um dos mais importantes diretores do cinema brasileiro responsável pela disseminação de temas tratados em favelas, pelo mundo a fora. Fernando Meirelles está em Fortaleza e participou de um debate sobre os dez anos de “Cidade de Deus”, com a divulgação do documentário "Cidade de Deus-10 Anos Depois" que mostra a vida atual das pessoas que participaram do filme considerado a obra-prima do diretor. Um trabalho que rende um debate mesmo uma década depois de feito. Tudo aconteceu na Plenária da Assembleia Legislativa com a entrada gratuita. 
    
 

 Confira a entrevista:
 
Diretor Fantasma: Para fazer Cidade de Deus não foi nada fácil, dá para estipular pelo resultado final do filme. De todas as dificuldades de direção cinematográfica, qual foi a mais trabalhosa de se lidar/

Fernando Meirelles: Acho que foi juntar as 600 páginas do livro no roteiro de cento e poucas páginas e achar um elenco de atores não profissionais que dessem conta da história.

DF: Sobre o documentário “Cidade de Deus-10 Anos Depois” que mostra como está hoje a vida das pessoas que participaram do filme. Alguns continuaram morando na favela, outros trabalham como atores, ou são marceneiros, mecânicos e até mesmo entregues ao crime. Você previa todos esses “finais”.

FM: Sim. É interessante esse documentário porque é um retrato do Brasil, é um resultado do que aconteceu com aquela molecada da periferia do Rio dez anos depois. Claro que alguns garotos não sabiam o que poderia acontecer com eles participando do filme, e ainda sim deram certo, foram surpresas boas. Assim como tinha garotos muito complicados que sabia que não ia acabar bem, até tentamos ajudar no caminho. Mas é incrível que dá para saber se o cara vai ou não dar certo só no olho. 


DF: Cidade de Deus tratou de um tema muito delicado e mais que real para o Brasil naquela época. Depois do sucesso, várias produções seguiram o mesmo tema do filme, trataram sobre o cotidiano nas favelas. “Tropa de Elite” é um resquício desse tema. Você acha que depois de um tempo, falar de favela, virou moda nas produções?

FM: Na verdade a favela não pode ser considerada moda, uma enorme parcela da população brasileira mora em favela, que até um tempo atrás era esquecida pela mídia em geral. Eu acho que o filme ajudou a trazer uma população a tona, colocar luz nesse lado do Brasil. Por outro lado o filme fez uma boa bilheteria, e muitos produtores viram que mostrar aquelas histórias que não estavam sendo contadas podia trazer público, por que antes achavam que ninguém iria assistir, mas então viram que não, que há interesse nessas histórias. Mas ainda sim eu acho até crueldade dizer que virou moda, por que isso ajudou a disseminar uma parte desfavorecida da população.

DF: Depois de ser produtor do filme Xingu e sofrer com a baixa bilheteria você afirmou que desistiu de iniciar o roteiro baseado na obra Grande Sertão Veredas para seu próximo filme, mas desistiu por conta do desinteresse do público, afirmando que para a língua portuguesa, por enquanto, não fará filmes. Haveria então agora algum projeto para a TV?

FM: Eu vou rodar um filme internacional agora em outubro, na Europa, sobre um milionário grego, Aristóteles Onassis, e estamos fazendo dois projetos na produtora, produzindo não vou dirigir. Um se chama “Contos do Edgar”, que são seis contos adaptados do escritor Edgar Allan Poe, que começa a ser gravado agora em agosto com o elenco todo brasileiro. E tem um programa chamado 360, que não tem nada há ver com o meu filme que vai ser lançado agora, e será um documentário sobre questões muito tópicas no Brasil vistas sempre de pontos diferentes. As duas produções serão para a Fox. Todos serão rodados esse ano ainda.


O filme que foi responsável pela sua ascensão como diretor e teve uma grande parcela de contribuição para sua carreira internacional. Depois de Cidade de Deus, Meirelles dirigiu:

 “O Jardineiro Fiel” (2005)
Filme que rendeu 3 indicações ao Oscar, sendo ganhador na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante para a britânica Rachel Weisz; 

“Ensaio Sobre a Cegueira” (2008)
 Uma adaptação do livro homônimo do escritor português José Saramago, com grande elenco internacional. Com Julianne Moore, Mark Ruffalo e Danny Glover.

360 (2012)
   

Inspirado em "La Ronde”, clássica peça de Arthur Schnitzler, 360 é uma reunião de histórias dinâmicas e modernas, passadas em diversas partes do mundo. No elenco mais uma vez a atriz britânica Rachel Weisz , o consagrado ator britânico Anthony Hopkins , o ator Jude Law , o ator americano Bem Foster e a atriz brasileira que viveu a Aline na série de mesmo nome na TV, Maria Flor, além de um grande elenco estrangeiro. O lançamento está previsto para dia 27 de agosto.

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