quinta-feira, 7 de junho de 2012

DEBATE: CIDADE DE DEUS, UMA DÉCADA EM UMA TARDE.


Comemorando 10 anos, o filme Cidade de Deus do diretor brasileiro Fernando Meireles, ganhou um grande debate na Planária da Assembléia Legislativa do Ceará no quarto dia do Festiva Ibero-Americano Cine Ceará (segunda 04), com a presença de jornalistas, estudantes de cinema e áudio visual, atores  e diretores latinos. E é claro, a presença transcendental do Diretor Fantasma.

Na bancada junto com o diretor estavam os críticos de cinema Ana Maria Bahiana e Luiz Zanin, o deputado Lula Morais, o presidente do INESP Paulo Linhares, o diretor da Casa Amarela Wolney Oliveira, a secretária do audiovisual do Ministério da Cultura Ana Paula Santana e a jornalista Maria do Rosário Caetano. 

O debate começou com a exibição do trailer do documentário “Cidade de Deus-10 Anos Depois”, que mostra uma série de depoimentos das pessoas que participarem do elenco sobre o filme “Cidade de Deus” e como está a situação atual de cada um. O documentário é dirigido por Cavi Borges e Luciano Vidigal e será lançado no Festival do Rio, no final desse ano.  


A primeira pergunta feita para o diretor Fernando Meirelles foi sobre o elenco infantil. Como a equipe tomou o controle da molecada presente no filme de forma tão ordenada. O diretor contou:

“A ideia foi criar uma escolinha de cinema um ano antes, onde alugamos um espaço no Rio e entrevistei dois mil garotos, selecionei duzentos, e diariamente fazíamos aulas em turnos, 3 vezes por semana. Nesse processo não foi dito a eles que eu iria fazer um longa. Na minha cabeça se eu encontrasse os atores faria o filme e se eu não encontrasse os atores naquele grupo eu abandonaria o projeto. Acabei encontrando. Tenho uma teoria, e acredito muito nela, que atuar é como um dom. Acho que as pessoas nascem atores. Até arrisco dizer que quatro entre 100 pessoas são atores. Então na verdade o que eu preciso é achar os atores. E é isso que eu fiz. Eu não diria que eu formei atores, eu encontrei atores. Foi uma peneira. Que nem futebol”.

Após, a crítica de cinema e uma das juradas de longa-metragem do Festival, Ana Maria Bahiana, lembrou de como filme de Meirelles foi o comentado no Festival de Cannes em 2002 e de como foram duras as críticas aqui no Brasil sobre o filme. Meirelles então compartilhou:

“Logo que lancei o filme fui convidado para fazer um debate numa sala em São Paulo e, na verdade, fui esquartejado por uma parte das pessoas que estavam na mesa e pelo público que estava lá. Lembro de um camarada que estava sentado na minha frente que, em algum momento, falou: “Seu imbecil, seu filme vai ser esquecido em um ano”. Falou assim, na minha cara. Eu não esqueci essa frase e pensei: ‘Vamos ver daqui dois anos se o filme será esquecido’. E nós estamos aqui. Ele estava errado e o filme deve ter alguma coisa certa”. 



Quando perguntado sobre o retorno financeiro do filme, o diretor confessa que se tratando em lucros em dinheiro, o filme não compensou: 

“A minha carreira hoje sem dúvida se deve ao filme. Quando voltei após mostrá-lo em Cannes vim com uma pilha de 15 roteiros. Então se hoje faço cinema e tenho um acesso a financiamento internacional é por causa do filme. Agora, retorno direto por causa do Cidade de Deus, infelizmente, foi quase nada. Eu fiz contratos muito ruins. Coloquei meu próprio dinheiro para fazer o filme. O nosso país mudou muito, mas há dez anos ninguém ia investir num filme sobre favela com atores desconhecidos. Era uma total maluquice. Então acabei investindo”.

Meirelles completa ainda que está em crédito com os estúdios e que encarou processos judiciais:

“O fato é que pela contabilidade da Miramax, apesar deles terem pago 1 milhão e 800 mil pelo filme, e ele ter feito 7 milhões de dólares nos Estados Unidos, ainda estou devendo 4 milhões e poucos mil dólares para zerar a conta e começar a receber. Eu vou lá na loja, o filme está nas prateleiras, mas eu ainda estou com um débito”.

“Tem uma cena do aniversário do Zé Pequeno, onde tinha uma mesinha tocando um samba. Eu ia rodar essa cena e o cara que tava lá, o ator, disse que teria um samba feito por ele e perguntou se poderia colocar no filme. Nós dissemos que sim e fizemos um contrato Na hora de 5 mil reais com ele. Depois que o filme foi lançado, descobrimos que ele tinha um parceiro que queria 4% da renda mundial do filme. Daí nesse processo gastei ainda mais dinheiro.

È isso ai, parece que dez anos ainda não bastaram para esquecer CDD. Até a proxima década!

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